No dia 11 de abril, o Peru irá realizar eleições gerais para escolher um novo parlamento, incluindo seu presidente, no entanto, cerca de 37% do eleitorado declara que votará em branco ou que está indeciso, segundo as últimas pesquisas de opinião divulgadas pela empresa Datum.
O restante do eleitorado se divide entre oito chapas. O favorito à presidência é Yonhy Lescano pelo partido de centro-direita Ação Popular, com 13% de intenções de voto.
Em segundo lugar, empatados com 7% da preferência estão três candidatos: Rafael Aliaga do conservador Renovação Popular, George Forysth, da organização Vitória Nacional, que teve sua candidatura impugnada, e Keiko Fujimori, do partido Força Popular e filha do ex-ditador Alberto Fujimori.
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Na última quinta-feira (11), o Ministério Público peruano solicitou uma pena de 30 anos de prisão à Keiko por estar envolvida em 41 denúncias de corrupção relacionadas à construtora Odebrecht.
“Não podemos entender a situação de dispersão política e dispersão do voto, se não entendemos que estamos enfrentando uma profunda crise política, gerada por escândalos de corrupção envolvendo políticos e empresários, que aconteceram antes da pandemia”, comenta o analista político peruano Diego Motta.
Em novembro de 2020, protestos contra destituição do presidente do Peru, Martín Vizcarra, deixam mortos e feridos; dezenas de ex-ministros do país denunciaram "violação da ordem democrática"./ Ernesto Benavides/AFP
Desde os anos 2000, o Peru elegeu quatro presidentes, todos foram derrubados por crimes de corrupção.
No atual processo, mais de 3 mil candidatos se inscreveram para disputar 130 cadeiras no congresso e cinco no Parlamento andino – formado por representantes da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru.
O processo eleitoral marcaria o fim da gestão interina de Francisco Sagasti e de uma crise política que levou à derrubada de dois presidentes em menos de duas semanas.
Movimentos sociais, estudantis e organizações comunitárias exigiam que as eleições tivessem uma segunda urna para iniciar um processo constituinte e alterar a atual carta Magna, promulgada durante a ditadura fujimorista.
No entanto, a pressão das ruas não foi acatada pelas autoridades e até o momento, o diagnóstico é de que haverá uma alta abstenção por conta da pandemia e o parlamento estará dividido em ao menos oito bancadas.
Pandemia
O Peru foi, durante meses, o país com maior taxa de letalidade pelo novo coronavírus na América Latina e no mundo. Hoje o país acumula 1,39 milhão de doentes e 48.848 óbitos pela doença.
A vacinação começou em grupos prioritários, mas o país recebeu menos de 1% das 48 milhões de doses compradas de diferentes laboratórios.
Além disso, há menos de um mês, um escândalo de vacinação antecipada de membros do governo levou à renúncia da ministra de Saúde Pilar Mazzetti.
ACTUALIZACIÓN | Esta es la situación del #COVID19 en Perú hasta las 22:00 horas del 10 de marzo. #NoBajemosLaGuardia Más información:https://t.co/gV83tCVfdA pic.twitter.com/7LHRxOOdKn
— Ministerio de Salud (@Minsa_Peru) March 11, 2021
“Também está toda essa crise econômica. A demanda de uma constituição acabou passando para um segundo plano, porque as pessoas estão pensando se vão se vacinar ou como conseguem um emprego e ocupam mais espaço do que outros grandes debates da sociedade peruana”, afirma Javier Torres Seone, antropólogo e editor do portal de Notícias SER.
Crise generalizada
A crise sanitária se soma a um cenário de instabilidade da economia, com 13% de desempregados e um contexto de 70% da população economicamente ativa trabalhando no setor informal.
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O deterioro das condições de vida e a polarização gerada pelos protestos de novembro de 2020 seriam os principais fatores que levaram ao desinteresse atual pelas eleições, segundo os analistas peruanos.
O contexto inclui o campo progressista dividido em três chapas e a extrema-direita ganhando espaço com a candidatura de Aliaga com possibilidades de disputar o segundo turno.
Peru tem 48 milhões de doses contratadas, mas vacinação contra covid19 segue lenta com a chegada de menos de 1% dos imunizantes. / Ministério Saúde Peru
O peruano Diego Motta analisa que nessa conjuntura, a tendência é que as pessoas escolham saídas cada vez mais radicais e os discursos que não dialogarem com demandas reais da população, perderão força.
Pela esquerda, Verónika Mendonza, da agrupação Juntos Pelo Peru, é a melhor colocada e acumula 6% de intenções de voto.
Para o antropólogo e comunicador Javier Torres, o contexto de indefinição também foi gerado pela falta de capacidade de diálogo dos partidos com a juventude, que protagonizou as últimas manifestações e desconfia da classe política.
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“Há uma demanda real por uma nova constituição, de que existam mudanças, principalmente depois da experiência da pandemia, que foi terrível, como em todos os lados, mas aqui demonstrou como o Estado está preso”, declara.
Com um sistema político desacreditado ante as maiorias, a indefinição do resultado leva a crer que a crise permanecerá.
“Creio que é necessária uma refundação da política e da pátria muito mais profunda. A saída virá ou pela esquerda, que poderia ser por um processo constituinte. Ou se esse discurso de refundação da pátria for apropriado pela direita, um governo populista, muito duro, a exemplo do que vemos com Trump e Bolsonaro. Essas são as duas opções: socialismo ou barbárie”, conclui Motta.
Edição: Douglas Matos